ARTIGO ANDRÉA MARTIN MICELI


O MEDO DE FALAR EM PÚBLICO





Andréa Martin Miceli

Resumo

O medo de falar em público constitui um dos maiores medos do ser humano. Ele muitas vezes impede que a pessoa demonstre todas as suas potencialidades orais, interferindo na comunicação adequada.  Sendo que é exatamente no processo de comunicação interpessoal que se tem condições de criar e compartilhar significados na interação entre pessoas, relação esta muito valorizada em qualquer lugar. Esse medo pode causar uma grande interferência, prejudicando de maneira significativa a vida profissional, social e pessoal. Neste caso pode resultar em sofrimento acentuado, que gera baixa auto-estima, pois a pessoa passa a se achar incompetente e incapaz de obter o sucesso tão almejado. A melhor forma de controlar esse medo excessivo, a ansiedade e a timidez, seria enfrentar todas as oportunidades que surgem de falar em público, tornado-se assim mais experiente e consequentemente mais seguro de se expor, uma vez que o exercício da prática cria os hábitos.

Palavras chave: medo de falar em público; comunicação; ansiedade; timidez.

Astract

The fear of speaking in public is one of the biggest fears of the human being. It many times hinders the person to demonstrates your verbal potentialities, intervening with the adequate communication. However it accurately in this process of interpersonal communication that if has conditions to create and to share meanings in the interaction between people, this relation has much value in any place. This fear can cause great interference, harming in significant way the professional, social and personal life. In this case that can result in accented suffering, with self-esteem, therefore the person thinks to be incompetent an incapable to get the longed for success. The best form to control this too much fear, anxiety and shyness, would be to face up in all the chances that appear of speaking for the public, becoming thus more experienced and more safe to expose yourself, a time that practice the exercise can be creates the habits.

Keywords: fear of speaking in public; communication; anxiety; shyness.

1 Introdução

O sucesso do ser humano de modo geral, depende cada vez mais da sua habilidade em se comunicar. Não há nada mais poderoso para o sucesso e o reconhecimento na carreira profissional que saber comunicar-se. “MARCON (2003) ressalta, saber comunicar suas idéias é tão importante quanto tê-las". Sendo assim, a comunicação é uma competência obrigatória em todas as áreas da vida. Ela acaba sendo prejudicada pelo medo de falar em público que gera inúmeros problemas de comunicação, truncando palavras e desvinculando a sequência lógica de pensamento. Algumas pessoas sentem-se desconfortáveis e incompetentes para falar diante de grupos sociais mais amplos.
O medo natural é um sentimento de fundamental importância na vida do ser humano. Ele está ligado ao instinto de sobrevivência, que é um medo inato, chamado de medo fisiológico. Através dele o indivíduo se protege de um perigo ou mesmo de um sofrimento. O medo, na maioria das vezes, começa a tomar novos significados na infância. No início da vida o ser ainda não adquiriu o medo condicionado, mas à medida que interage com os adultos, passa a ter o medo aprendido. O grande problema é quando ele é sobrecarregado de ansiedade, pois tem o poder de paralisar a vida de uma pessoa, trazendo conseqüências desastrosas que impossibilitam o indivíduo crescer e seguir seu rumo, achando-se incapaz de prosseguir, tentar e conseguir.
A sensação de incompetência, o sentimento de incapacidade ou de deficiência, atua trazendo à tona comportamentos disfuncionais vividos durante a infância que fizeram com que esse indivíduo criasse bloqueios por ter sido, em grande parte, vítima de fracassos. Frente a situações adversas, a pessoa passa a generalizar esses estímulos, gerando ansiedade, por já ter vivido situações parecidas e ter sido infeliz. Essa ansiedade antecede o medo e causa sintomas que normalmente são visíveis a todos os presentes, o que de certa forma, prejudica ainda mais essa exposição provocando timidez excessiva, que impede a comunicação de forma satisfatória.
Todos esses sentimentos geram uma queda na auto-estima, que é a capacidade da pessoa confiar em si própria, de sentir-se capaz de enfrentar os desafios da vida e saber expressar de forma adequada, para si e para os outros, as próprias necessidades e desejos. Quando a baixa auto-estima se instala, causa um impacto profundo no funcionamento pessoal do indivíduo, que passa a se preocupar em demasiado com as críticas e comentários dos demais, o que faz com que ele evite expressar suas opiniões, gostos, valores, pensamentos e sentimentos.
A maioria dos indivíduos subestima sua própria capacidade. Enquanto não há uma clara visão positiva de seu próprio potencial, dificilmente estará preparado para se expor frente aos seus semelhantes. Para desenvolver a auto-estima e auto-confiança, tem que ser feita uma avaliação realística de suas conquistas até então, de seu desenvolvimento passado, de seus talentos e recursos pessoais. Deve tentar “limpar” da mente qualquer auto-imagem negativa que foi incorporada nas diferentes fases da vida. Se for necessário, buscar ajuda profissional do psicólogo que o levará a uma visão mais realista e confiante de si mesmo. É exatamente essa confiança e essa crença em si que faz o indivíduo arriscar mais, ousar e oferecer-se para realizar tarefas desafiadoras.
O presente estudo teve como objetivo descrever o porquê tememos tanto a exposição de falar em público, o que esse medo causa na pessoa, como ele pode ser controlado e algumas dicas para esse autocontrole e superação.  As informações aqui apresentadas poderão auxiliar no aprender a lidar com este sentimento, tão comum e perturbador.

2 Desenvolvimento

Falar em público, para grande maioria, é algo penoso, porque estar em evidência, principalmente sendo avaliado, pode causar ansiedade, medo e inibição. Esse medo é bastante comum, e em geral decorre da ausência de experiência ou preparação para fazer apresentações, dar palestras, defender trabalhos ou conduzir reuniões. A experiência é algo que adquirimos com o tempo, mas a preparação está ao alcance de todos, consistindo no domínio do tema, do ambiente, das expectativas do público e das ferramentas adequadas.
Quem não consegue se comunicar de forma eficaz geralmente é rotulado ou se autoqualifica como tímido. A timidez pode ser definida como o desconforto e a inibição em situações de interação pessoal que interferem na realização dos objetivos. De fato, ela é um dos maiores bloqueios do ser humano, porque impede que suas potencialidades se sobressaiam. A pessoa passa então a apresentar sintomas como, vergonha, medo de ser ridicularizada, medo da crítica, medo da rejeição, de perder a sequência do assunto e assim por diante. Esse sentimento de inadequação e medo impede a pessoa de se expressar adequadamente, pois aumenta o nível de ansiedade, podendo chegar ao desequilíbrio emocional. 
“O medo do erro é normal e natural. A naturalidade prende-se ao fato de nos sentirmos responsáveis por aquilo que estamos informando ao público. Como não queremos passar dados inverossímeis, a apreensão, a ansiedade gera-nos um pequeno desconforto, uma tensão, um nervosismo” (SILVEIRA, 2001). Queremos ser perfeitos em tudo, e aí reside mais um fator que complica: o nível de exigência.
A resposta anterior ao medo é conhecida por ansiedade. Na ansiedade o indivíduo teme antecipadamente o encontro com a situação ou objeto que lhe causa medo. Sendo assim, é possível traçar uma escala de graus de medo, no qual, o máximo seria o pavor e, o mínimo, uma leve ansiedade, o que é perfeitamente normal algum grau de ansiedade e nervosismo, devido ao senso de responsabilidade.
O medo é um mecanismo de defesa usado pelo ser humano para a proteção de um perigo real ou aparente. Quando sentimos medo, sofremos uma descarga de adrenalina para que possamos nos proteger de algo, fugir por exemplo. Ao falar em público, esse medo aparece, sofremos uma descarga, mas não podemos usar da fuga, então essa adrenalina permanece um tempo maior no organismo provocando uma desordem do pensamento, que pode estar associado a vários sintomas físicos como,palpitações, transpiração súbita, tremor, em especial nas mãos e nas pernas, dores de cabeça, vermelhidões pelo corpo, sensações desconfortáveis no estômago, perda da voz, gagueira, entre outros. 
De acordo com POLITO (2005),
Nós temos internamente dois oradores distintos: um real e outro imaginado. O real é o verdadeiro, aquele que as pessoas vêem efetivamente. O imaginado é fruto da nossa imaginação, aquele que nós pensamos que as pessoas vêem quando falamos. Esse orador imaginado é construído principalmente pelos registros negativos que recebemos - os momentos de tristeza, de derrota, de cerceamento que passamos ao longo da vida. Esses registros formam uma auto-imagem negativa, distorcida, diferente da imagem verdadeira que possuímos. O orador imaginado se apóia nessa auto-imagem e, por isso, normalmente é também muito negativo. Como conseqüência, ficamos com receio das críticas e julgamos que as pessoas estão censurando nossa apresentação. Temendo estar passando por essa situação, ficamos com medo e, mais uma vez, a adrenalina surge para nos defender.
O medo nutre na pessoa a sensação de incompetência o que a impede muitas vezes de aproveitar oportunidades que se apresentam, formando uma auto-estima e auto-imagem negativas. Quando sentimos medo, os desafios se transformam em grandes ameaças capazes de estagnar o nosso talento e a nossa carreira. O nervosismo atrapalha o bom desempenho, o raciocínio e provoca os famosos “brancos”. As pessoas passam então a serem vistas como fracas, inseguras e despreparadas.
Esses dois aspectos, tanto a ansiedade quanto o medo, surgem na vida da pessoa através de vivências interpessoais e problemas na primeira infância.É no ambiente familiar que a criança constrói, através de identificações e de modelos, sua auto-imagem que está intimamente ligada à auto-estima. Se esse ambiente inicial for repressor, pode gerar o que é chamado pela psicologia de indefensão aprendida, ou seja, quando a pessoa adquire a experiência de se achar indefesa, de que nenhuma de suas ações contribui para suas conquistas ou êxitos, por terem sido mais destacados seus insucessos que seus sucessos. Esse conceito de incompetência, uma vez internalizado, poderá criar uma base sobre a qual se instalará o medo, o que passa a impedir seu crescimento pessoal. 
Este é um dos momentos em que a terapia se torna importante, pois irá trabalhar exatamente a sua capacidade de resiliência, ou seja, o seu poder para se recuperar, encarando seus erros, fracassos e dificuldades de maneira mais assertiva, transformando sua experiência dolorosa em algum tipo de aprendizagem vivencial positiva. Segundo DOUGLAS, SANCHES E SPINA (2008), “a maior conquista de um homem é superar seus próprios obstáculos”. Portanto, o processo psicoterapêutico terá como foco, a superação dessas barreiras. 
Caso esse medo não venha a ser trabalhado ele poderá tornar-se mais prejudicial ainda, comprometendo, de certa forma, suas relações sociais e a causando-lhe grande sofrimento psíquico, podendo transformar-se em um transtorno chamado fobia, ou até numa fobia social, por exemplo. O fóbico social tem dificuldade de se relacionar. "A característica mais marcante desse tipo de fobia é o medo que a pessoa tem do julgamento dos outros", afirma BARROS NETO (2000). "O fóbico social geralmente é muito perfeccionista. Como é impossível agradar a 100% das pessoas, ele prefere se omitir".
A melhor forma de superar o medo é enfrentá-lo. O tratamento de fobias geralmente é baseado na exposição gradativa da pessoa a situações que ela teme, essa aproximação é feita por psicólogos de forma lenta e dosada, através da técnica da dessensibilização.
Uma forma de transmitir aos nossos sentidos uma sensação de proteção, diminuindo a ansiedade e o medo de falar em público, é utilizar de algumas estratégias psicológicas antes de qualquer apresentação, como criar imagens positivas sobre o seu trabalho, relembrando elogios que recebeu e evidências da sua competência técnica e comportamental, evitar o contato com pessoas pessimistas, dirigir mais assertivamente seus pensamentos, analisando o que é real e o que é imaginário. Algumas estratégias técnicas como, chegar um pouco antes da apresentação, com a finalidade de checar os recursos que serão utilizados, caminhar pelo espaço destinado, procurando respirar profundamente, pois a respiração é de suma importância na hora da fala. Aquecer a voz através de leitura em voz alta, procurando articular as palavras com clareza e fluência. Usar trajes discretos e elegantes, adequados para o momento.
“O medo de falar em público está baseado em quatro desconhecimentos. Nosso desconhecimento dos assuntos sobre o qual falaremos, de nosso potencial como oradores, das técnicas de falar em público e o desconhecimento do público e suas reações. E tudo isso pode se aprendido e superado” (CARVALHO, 2008).
Para combater o medo de falar em público é necessário que anteriormente a pessoa tenha planejado, treinado e avaliado seu próprio trabalho. Para isso o ideal seria que o apresentador tivesse uma boa preparação antes de qualquer apresentação, conhecendo o assunto em profundidade, pois a falta de domínio gera insegurança; que praticasse e adquirisse experiência aproveitando-se de todas as oportunidades para se apresentar sempre que tivesse a chance de falar em público, para conquistar segurança e combater o próprio medo; ter maior autoconhecimento, sabendo identificar suas qualidades de comunicação e encontrar a partir delas segurança para falar.
A reação do público é o que mais perturba o apresentador durante sua exposição. Afim de que as pessoas possam reagir de maneira mais agradável e participativa é imprescindível que ele tenha atitudes como: encarar o público, mantendo constante interação visual e uma maior proximidade afetiva com as pessoas; movimentar-se enquanto fala, explorando o ambiente físico; utilizar recursos visuais, pois o ser humano possui percepção visual bastante apurada; utilizar linguagem clara e persuasiva; evitar vícios de linguagem e sempre manter postura firme e decidida. 

3 Conclusão

Através do exposto pode-se perceber que falar em público está entre as situações que mais geram ansiedade, preocupação e sentimentos de impotência. O medo aumenta de forma desproporcional a sensação de insegurança, que faz com que o indivíduo crie um bloqueio para se proteger. Esse bloqueio o impede de se expor acarretando perdas de oportunidades em suas diversas áreas. Trata-se então, de uma desnutrição emocional que pode ser tratada e curada por profissionais experientes no assunto.
As pessoas mais tímidas tendem a supervalorizar os possíveis riscos. Assim, o novo e a possibilidade de mudança tornam-se assustadores. Dessa maneira, quando cabe a tarefa de nos apresentarmos em público, o pavor de enfrentar uma platéia pode castrar a possibilidade de sucesso.
Os motivos mais aparentes para esse tipo de temor são: o perfeccionismo, nervosismo, auto-imagem negativa, excesso de autocrítica, barreiras verbais e não-verbais, sensação de ridículo, instabilidade emocional, desmotivação para superar desafios, cobranças internas e externas, inexperiência na função, apresentações anteriores frustrantes, medo da responsabilidade proveniente do sucesso, falta de treino, bem como de conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias à comunicação eficaz. 
Esses vários motivos podem ser trabalhados e treinados fazendo com que o indivíduo desempenhe melhor sua capacidade de autocontrole, sabendo equilibrar seus próprios impulsos, ações e desejos. O autocontrole exige autodeterminação e força de caráter. 
“O rio atinge sua meta que é alcançar o mar, porque consegue contornar seus obstáculos” (autor desconhecido).

Referências Bibliográficas

BARROS NETO, T.P. Sem medo de ter medo. São Paulo; Casa do Psicólogo, 2000.
CARVALHO, Z. Os segredos da Oratória Política em 10 lições. São Paulo; Minelli, 2008.
DOUGLAS, W.; SANCHES, R.; SPINA, A. L. Como falar bem em público. Rio de Janeiro; Ediouro, 2008.
MARCON, L. Falar em público. 5.ed. ; São Paulo; Cultura, 2003.
POLITO, R. Vença o medo de falar em público. 8.ed. São Paulo; Saraiva, 2005.
SILVEIRA, M. Você Tem Medo de quê? Revista Você, São Paulo: editor setembro de 2001, p. 54 a 59.




Andréa Martin Miceli é Psicóloga Clínica
Especialista em Atendimento Sistêmico à Casal e Família
Professora da Faculdade Suldamérica
Disciplinas: Psicologia Aplicada à Educação e Psicologia Aplicada à Administração